terça-feira, 27 de setembro de 2011

Foi por medo de avião

Quem diria eu, aos meus 32 anos fosse sentir medo de voar pela primeira vez na vida.
Quem diria eu, no meu 300º voo na vida fosse sentir medo após ouvir "portas em automático.

Quem diria eu, após conhecer todas capitais do Brasil, com medo de sair da capital do País para volta a capital do estado que moro.

Quem diria eu, após seis anos viajando a trabalho teria medo de voltar para casa.

E meu amigo leitor a vida nos prega pecas e aqui vou lhe explicar porque meu medo.

Após uma tumultuada noite de sexta com minha filha no hospital, compramos os remédios e voltamos para casa. Após medicar nossa filha, percebemos que ame hora não acontecia, passeamos a noite a acordados e minha esposa procurando o melhor modo para acomoda-la em seus braços para que ela descansasse, porém o descanso não vinha.

A luta percorreu pela madrugada a fora e a inexperiência de pais de primeira viagem deixando o medo tomar conta, porém eu tinha compromisso no dia seguinte, em Brasília, que fica a uma nota e meia de São Paulo (avião).

Como a Isabella não melhorava a decisão foi voltar para o hospital enquanto minha esposa pegava um taxi para um lado peguei outro taxi com destino a Congonhas.

Pela primeira vez sentia a dor, o medo e o peso de deixar um filho doente, mas sou alimentado por tudo que esta a minha volta e meus compromissos, meu trabalho e o que proporciona dar uma vida  com qualidade a todos, e pensando ser apenas uma gripe mal curada, mas com profundo aperto do peito nos despedimos.

Como as coisas acontecem de modo que não entendemos, minha esposa teve problemas com o celular no dia anterior e estava sem comunicação, ou seja, somente após o atendimento e encontrar um orelhão poderia me dar notícias. AUMENTO DA ANSIEDADE.

Ainda antes de entrar no avião o pensamento corria, VOLTAR ou NÃO VOLTAR, estava ali a questão, teria um treinamento para duzentas pessoas no período da tarde onde eu seria o palestrante e criador de todo material. EMBARQUEI.

Neste momento havia a preocupação, ansiedade por informação, mas ate aí só mais um voo que faria dentre as centenas de voos anteriores.

Uma hora e quarenta depois meu avião pousa na capital de nosso estado maior, e antes das portas se abrirem meu dedo procurou o botão power do meu celular instintivamente.

Mal ligou, uma chamada “MIGUEL" era o nome que aparecia na tela. Achei que era o padrasto de minha esposa perguntando se a bebe tinha melhorado, pois tinha passado em casa na noite anterior pouco antes de sairmos ao hospital.

NÃO ERA O MIGUEL, era LUCIANA, minha esposa, com voz calma mas informando que a Isabella estava na UTI. Sua experiência anterior com pôs graduação em fisioterapia na área de UTI, lhe trazia a cabeça informações que de era muito mais segunda do que a gravidade, porém meu amigo a minha experiência em planilhas, planejamento e criação de artigos não me ajudava em nada, pelo contrário, tudo que tinha lido falava que UTI era para pessoas em estado grave.

Agora imagine. Tinha acabado de pousar e estava a 900 km do hospital, me dite io ei ao local onde daria o treinamento mantendo contato com minha esposa que apenas se mostrava tranquila e também me tranquilizava. Recebi todo apoio da equipe e presidente da empresa, pedi para procurarem voos para antecipar minha volta e falei a minha esposas para ela fazer tudo que fosse preciso.

Em uma ligação a calma da Luciana não era mais a mesma, pois a necessidade de remoção de hospital para um local que não conhecíamos a deixou apreensiva.

Momentos de pânico e desespero. Queria abraçar as duas ou simplesmente colocar minha milha para segurar meu dedo, NÃO DAVA.

A horas se passavam e conseguir antecipar meu voo, mas a hora se arrastava, mal conseguia falar a preocupação era maior, nunca pensei que doía tanto, preferiria EU estar naquela UTI, trocaria na hora se Deus me concedesse esta opção e o que ele fez foi me dizer que toda Cruz deve ser carregada por seu dono para que ao final do caminho novas lições serão aprendidas, mas me disse também, fique tranquilo nunca deixarei você meu filho carregar uma Cruz mais pesada do que você consegue carregar.

Neste momento percebi que Deus fala conosco o tempo todo, mas acha os que são apenas pensamentos soltos.

Ok. Aeroporto, check in, sala de espera, rampa de acesso, uma criança brincando me impede de entrar no avião, imaginai na hora minha filha já grande e a família reunida indo viajar em uma viagem de ferias, voltei o pensamento ao hospital e procurei o meu assento.

PORTAS EM AUTOMÁTICO. Neste momento minha vida passou pela minha cabeça e o tanto de tempo que não estou conseguindo ter para todos que estão a minha volta. Tive medo, muito medo, daquela decolagem. Ao ouvir DECOLAGEM AUTORIZADA, pensei, porque que autorizaram? Queria chegar a casa, mas pela primeira vez tive medo da possibilidade de não chegar.

Dois dias. Foi o tempo que durou aquela viagem, a temperatura, o barulho, a comida, nada me tranquilizava, mesmo sabendo da segurança que existe. Nunca tive medo de voar, mas estava tremendo.




Neste momento escrevo este texto no iPad na UTI, vendo minha filha em sono profundo induzido, torcendo para que ela acorde e eu possa ver aquele sorriso magico.


Sei que agora esta muito perto. Próximo passo quarto, depois casa.
 
Hoje posso dizer:

FOI POR MEDO DE AVIÃO QUE DESCOBRI DE MINHA VIDA A RAZÃO.